quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Realidade Suprema

Uma outra realidade
(por Bhagavatamrta Dasa)

Algum dia você já se perguntou se o mundo que vemos à nossa volta é mesmo real, ou se ele é apenas algum tipo de sonho ou ilusão? Com certeza, a maioria de nós nos fazemos essa pergunta em algum ponto de nossas vidas.

Embora o avanço da ciência tenha nos trazido muitos benefícios, ela tem falhado em responder à pergunta mais importante: quem realmente somos. Você pode dizer que é brasileiro, filho de fulano e pai de ciclano, mas estas são apenas designações temporárias, que estão relacionadas com o seu corpo e não com o seu verdadeiro eu.

Todas as religiões concordam com a ideia de que somos almas espirituais eternas. Isso nos leva a uma pergunta obvia: se somos eternos, por que habitamos um corpo temporário, que seremos obrigados a abandonar no devido curso do tempo? No segundo capítulo do Bhagavad-Gita, Krishna oferece uma resposta simples para a questão:

Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem você e nem todos estes reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir. Assim como a alma corporificada passa, neste mesmo corpo, da infância à juventude e então à velhice, ela passa para outro corpo no momento da morte. Uma alma auto-realizada não se confunde com tal mudança.” (BG 2.12-13)

Estes dois versos apresentam uma multiplicidade de ideias. A primeira delas é o conceito de eternidade. É fácil aceitar a ideia de que somos eternos no sentido de que não deixaremos de existir, mas a versão apresentada é que não apenas não deixaremos de existir, como na verdade sempre existimos. Nascimento e morte existem apenas dentro da plataforma material e nossa verdadeira natureza é à parte dela.

O verso continua com a ideia de que transmigramos entre diferentes corpos mesmo nessa vida. Você pode não se lembrar de quando tinha apenas um ou dois anos e dava seus primeiros passos, ou mesmo de muitas coisas que fez durante a infância, mas seus pais podem descrever estes eventos com detalhes. Seu corpo de criança não existe mais e sua mentalidade também mudou, mas a mesma consciência continua presente. O simples fato de você não se lembrar destes fatos, não significa que eles não aconteceram. Da mesma maneira, tivemos outros corpos no passado e aceitaremos outros no futuro. O verso é concluído com a ideia de que “uma alma auto-realizada não se confunde com tal mudança”.
E o que seria uma alma realizada? Os dois versos seguintes oferecem uma explicação:

Ó filho de Kunti, o aparecimento temporário de felicidade e aflição, e seu desaparecimento no devido curso do tempo, são como o aparecimento e o desaparecimento do inverno e do verão. Eles surgem da percepção dos sentidos, ó descendente de Bharata, e é preciso aprender a tolerá-los sem se perturbar. Ó melhor entre os homens [Arjuna], a pessoa que não é perturbada pela felicidade e aflição e permanece estável em ambas, é certamente elegível para a liberação.” (BG 2.14-15)

Nos Vedas, este mundo é comparado com o reflexo de uma árvore projetado sobre um lago. Não apenas o reflexo é instável, devido à ondulação da água, mas ele é também uma imagem invertida da árvore original. O plano espiritual é descrito nos Vedas como sendo “Satcitananda”, que é a combinação de três palavras: sat (eterno), cit (pleno de conhecimento) e ananda (pleno de bem-aventurança). É oposto exato desse mundo, onde recebemos corpos temporá-rios, não sabemos sequer quem realmente somos e temos uma existência atribulada.

Os problemas desse mundo são na verdade resultado da interação com a matéria e em última análise não atingem a alma, que faz parte da natureza superior. O verso nos apresenta a ideia de que uma pessoa auto-realizada sabe como aplicar este conceito na prática e por isso, embora continue executando seus deveres materiais, interiormente permanece estável em ambas as situações. Existem muitos exemplos de personalidades históricas que atingiram este nível de perfeição, como muitas grandes personalidades citadas nos Vedas e muitos santos cristãos, o que nos assegura de que, embora difícil de alcançar, este nível de perfeição não é impossível.

O verso é então concluído com a frase “é certamente elegível para a liberação”. No contexto usado, liberação não significa apenas se tornar imune ao sofrimento material, mas deixar de vez o universo material e atingir o universo espiritual, deixando o reflexo no lago e conquistando um lugar na árvore verdadeira. Este é o verdadeiro objetivo da vida.

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